Por Alexis P. Yovanovic
Introdução
Cultura tecnológica nacional não é apenas construir um carro, é também
trocar de lado o volante e o sentido do trânsito, como fez Inglaterra no começo
do século XX, preservando a sua indústria e mercado, inclusive nas suas
colônias da época. A autoridade pública deve impor decisões políticas acima dos
argumentos meramente técnicos ou econômicos, muitas vezes subjetivos,
angelicalmente “científicos” e nos dias de hoje, segundo orientações globais de
um poder econômico distante física e conceitualmente dos interesses nacionais.
A decisão de construir plataformas para exploração submarina de petróleo nos
estaleiros nacionais foi uma ótima decisão política do Governo Brasileiro (em
grande parte devido ao fato da PETROBRÁS ser estatal); e esta atitude pode
estender-se à revitalização do parque ferroviário e a outras áreas básicas da
indústria e da tecnologia nacional, entre elas: a Mineração.
O Negócio Mineral
Durante os anos 90 houve pouco ou quase nenhum investimento na área
produtiva de mineração no Brasil, mas muito dinheiro circulou de mão em mão,
agrupando-se os produtores em grandes corporações, privatizando a CVRD e outras
movimentações de compra e venda entre grupos acionários, como no caso dos
Fosfatos e outras áreas (CSN, MBR e outras); parecia o preparo para uma grande
investida. Por outro lado, após uma série completa do exercício da cadeia
alimentar entre os fabricantes, no começo do século XXI consolidou-se um
monopólio ligado à fabricação de equipamentos de beneficiamento, principalmente
de cominuição, que são os mais caros. As fábricas nacionais de equipamentos de
mineração caíram na mão de empresas globais.
Enormes negócios minerais são esperados para o Brasil nestes próximos anos
e, se o governo brasileiro não tomar uma atitude, esses projetos serão
direcionados por engenharia externa, o dinheiro dos investimentos produtivos
continuará saindo para fabricantes internacionais; as usinas serão construídas
do jeito que o projetista-alfaiate costurou (cada alfaiate faz uma usina
diferente) e o minério será transportado por vagões fabricados no exterior.
Enquanto Isso
Todos os novos projetos minerais possíveis de serem implantados nos próximos
anos no Brasil, já foram estudados pelo governo dos EUA e do Canadá, auxiliados
por técnicos brasileiros com “carteirinha” green-card. As informações podiam
(até pouco tempo atrás) ser lidas no site: www.stat-usa.gov ou também
procurando na Internet qualquer informação sobre “mining projects in Brazil”. O
governo Canadense possui o seu representante local para ajudar a desenvolver
negócios minerais. A China “ameaça” fazer de tudo por um preço mais barato.
Recentemente, o estado australiano de Queensland instalou em Belo Horizonte o
seu quarto escritório nas Américas, para os setores da mineração e siderurgia.
A indústria mineral brasileira e suas instituições de classe parecem estar
apenas observando esta avalanche de possibilidades.
Novos engenheiros, dependendo da sua universidade, projetam usinas
diferentes, em função da cultura tecnológica que os seus professores adquiriram
em outros países, repassando conhecimentos, mas sem aguçar o sentido crítico
dos seus alunos nem propiciar o desenvolvimento interno da melhor tecnologia
para a realidade brasileira.
MINERAÇÃO E CULTURA TECNOLÓGICA NACIONAL
Projetos vizinhos de um mesmo minério são implantados com culturas
diferentes, dependendo da vertente cultural da universidade onde o projetista
se formou. Moagem convencional se contrasta com moinhos SAG, tratando minério
similar, poucos quilômetros ao lado, gastando o SAG quase o dobro de energia.
O negócio mineral foi sublimado até alturas onde transitam apenas
economistas e banqueiros. A turma do macacão e capacete é comprimida dentro dos
20 ou 30 dólares do custo operacional, insignificante em comparação ao atual
preço das commodities. O dinheiro é investido em função de garantia bancária,
da credibilidade do assinante e da vaidade de quem aparece perante o mercado
como investidor de fachada. Em circunstância que o dinheiro vem realmente de
senhoras aposentadas de países desenvolvidos, que nem sabem que o projeto
poderia ter sido feito pela metade do preço.
A Proposta
Sugerimos aprofundar esta discussão com as autoridades do Ministério de
Ciência e
Tecnologia, Minas e Energia, da Indústria e outros para criar um plano de
desenvolvimento da cultura tecnológica nacional na área de Mineração:
- · Na
base profissional: Repensar o ensino das matérias de processamento mineral
nas universidades brasileiras. Hoje, apenas um repasse da tese de
doutorado do respectivo professor, normalmente adquirida no exterior;
- · Nos
laboratórios de pesquisa: Novos procedimentos experimentais para as
operações minerais, visando o estabelecimento de critérios simples e
otimizados para os projetos de beneficiamento, o que significa a ruptura
com os “paradigmas” impostos tradicionalmente pelos grandes fabricantes
mundiais que limitam a fabricação nacional de equipamentos mais simples e
de tecnologia local.
- ·
Logística: Planos de implantação de infraestrutura logística, ao longo do
Brasil.
- ·
Fabricação: O estabelecimento de alternativas tecnológicas nacionais. Seria
uma opção à BRASILEIRA, que ofereceria aos investidores uma alternativa
econômica e local para os novos projetos de mineração, com mão de obra
treinada, com padronização experimental, com bom suporte de suprimentos e
facilidades de manutenção, inclusive, com a possibilidade de utilizar
equipamentos usados.
Esta opção pró-ativa poderá desenvolver e padronizar tecnologia com os
fabricantes nacionais, os profissionais brasileiros da área mineral e os
próprios produtores nacionais.
OS PROBLEMAS DE HOJE:
- · Diminuição
do teor em antigos depósitos
- · Baixo
teor em novos depósitos;
- ·
Depósitos menores;
- ·
Heterogeneidade dos minérios;
- · Maior
Compacidade / Impurezas / Etc.
- · Baixa
recuperação Metalúrgica;
Este artigo foi escrito no sentido de fomentar as discussões e oferecer
opções de desenvolvimento tecnológico para o Brasil e MERCOSUL.
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