A geração de valor em uma atividade produtiva não tem necessariamente a ver com o preço por tonelada do produto vendido
O preço de uma tonelada de minério de ferro exportada pelo Brasil gira em torno de 150 dólares no mercado internacional. Enquanto isso, a versão mais barata do iPad custa 399 dólares nos Estados Unidos. Como o iPad pesa ao redor de 600 gramas, o valor equivalente por tonelada desse produto é nada menos que 565 mil dólares – quase 4 mil vezes o preço por tonelada de minério.
Esse tipo de cálculo tem sido usado por membros do alto escalão do governo para justificar a ideia de que exportar produtos básicos, como o minério de ferro ou produtos agrícolas, é ruim. Melhor seria incentivar produtos de maior “valor agregado” como computadores, aviões ou carros.
Entretanto, a geração de valor em uma atividade produtiva não tem necessariamente a ver com o preço por tonelada do produto vendido. Fosse assim, todos os empresários deveriam produzir anéis de ouro e colares de diamante.
Em realidade, uma determinada atividade produtiva adiciona valor quando as vendas do produto acabado são maiores que o custo das matérias-primas e operações. Esse é o chamado valor da transformação industrial. Economistas usualmente dividem esse valor pelo total de pessoas empregadas no setor para obter a famosa medida de produtividade do trabalho: o quanto uma atividade adiciona valor para cada trabalhador.
Segundo dados do IBGE, de 1996 a 2009, corrigindo pela inflação, o setor de extração de minerais metálicos adicionou um valor médio anual de 487 mil reais por trabalhador. E essa produtividade cresceu 4,28% ao ano. O setor de metalurgia, que seria, em tese, de maior “valor agregado”, adicionou bem menos valor: 246 mil reais por trabalhador, com um crescimento também menor de produtividade, de 0,68% ao ano. O setor de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, tido como de ainda maior “valor agregado”, exibiu uma produtividade de apenas 173 mil reais por trabalhador, declinante durante todo o período (queda de -3,68% ao ano).
O computador e o aço valem muito mais por tonelada que o minério de ferro, mas adicionam muito menos valor por trabalhador do que esse último produto tido como básico. Assim, obrigar empresas como a Vale a “agregar valor” ao seu minério investindo em siderurgia no Brasil ou dar subsídios para empresas montarem iPads no Brasil são ações que podem, paradoxalmente, destruir valor.
Por que isso ocorre? Os setores de extração mineral e produtos agrícolas se baseiam em áreas onde o Brasil tem vantagens naturais. Qualquer país pode investir em uma indústria de aço, mas poucos países têm disponibilidade de minério de qualidade. Além disso, por serem mais voltadas ao mercado externo, empresas de extração e do agronegócio enfrentam um ambiente mais competitivo e isso as estimula a investir em tecnologia e processos para obter ganhos expressivos de produtividade.
Uma preocupação legítima é que não é salutar “colocar os ovos na mesma cesta”. Choques negativos em um setor com peso muito elevado na economia podem comprometer a renda do país. Porém, apoiar indiscriminadamente indústrias menos produtivas, como fazemos agora, não é o melhor remédio.
O Chile, cuja economia é muito dependente da exportação de cobre, extrai recursos da sua atividade mineradora para investir em um fundo que apoia o empreendedorismo. Um estrangeiro que queira abrir uma nova empresa no país poderá receber 40 mil dólares do programa governamental “Start-up Chile” e trabalhar, em Santiago, em um prédio patrocinado pela Movistar, subsidiária da Telefonica.
É assim que se agrega valor: ao invés de dar as costas para setores onde temos vantagens naturais, o mais adequado é justamente usar o seu potencial de crescimento e renda como estímulo a uma nova geração de empreendedores que irão semear as indústrias competitivas do futuro.
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