Por André Winter
Conversando com muitos profissionais da mineração, sempre observo que há uma falta de entendimento sobre a relação do conceito de sustentabilidade com a mineração, principalmente quando este está ligado à empresa e o seu longo prazo de atuação.
Em geral, os mineradores pensam por projetos e empreendimentos pontuais. Para aumentar a eficiência operacional, as grandes empresas e seus profissionais focam o pensamento pontualmente na implantação ou operação de um único empreendimento. Essa prática, embora a mais eficiente em alguns pontos, cria muitos problemas. Começando pela não associação entre implantação e operação que pode levar a soluções não-práticas ou mais caras a longo prazo. Um segundo problema é a falta de compreensão desses profissionais sobre o todo e sobre o futuro da companhia.
Os esforços recentes do IBRAM e de diversas companhias globais de mineração ao pensarem o fechamento de uma mina , desde sua concepção, refletem a gravidade desse problema. Uma mina é temporária, mas o mercado não. Quando uma mineradora pensa isoladamente, para os 10, 20 ,50 ou mais anos de operação de uma única mina, está ignorando o impacto que esse empreendimento terá na empresa como um todo ou mesmo na indústria de mineração da região ou do país. Como isso acontece? Através de impactos sobre a reputação, imagem, legislação ou acesso a recursos.
Estatisticamente municípios mineradores possuem indicadores de desenvolvimento superiores à média, mas aqueles que viviam de uma mineração que se esgotou, possuem indicadores muito baixos de desenvolvimento. É esse cenário que todos temem: a criação de um passivo ambiental e social para a região após o fim da operação. As comunidades nesses locais tendem a rejeitar a mineração e ver os empreendedores com grande receio.
Para evitar que isso afete não apenas a comunidade local como também a reputação da indústria, é preciso estar atento a alguns fatores críticos de sustentabilidade para a região:
1. A comunidade anfitriã continuará existindo após o fechamento da mina. Sendo uma operação de curto prazo (menos de 10 anos), deve se considerar ações pertinentes para fortalecer o desenvolvimento local e minimizar os impactos socioambientais irreversíveis. Já para operações de longo prazo (acima de 10 anos) é interessante pensar em um plano de desenvolvimento integrado, em que a mineração participa como vetor de desenvolvimento industrial e possibilite uma futura diversificação econômica, bem como administre seus passivos ambientais responsavelmente. O caso da Alcoa em Juruti é emblemático na gestão desse legado.
2. Uma operação deve estar alinhada com a estratégia de longo prazo da empresa. Percebe-se , então, que o que acontece na operação e em sua relação com a comunidade local têm impacto na reputação e imagem da empresa, podendo significar maiores facilidades ou dificuldades para implantar projetos em novos locais. Podem, também, representar uma redução na confiança e exigência dos stakeholders (governos, ministério público, sociedade local entre outros).
A Sustentabilidade não é um assunto abstrato e utópico para as organizações, pelo contrário representa riscos e oportunidades para aqueles que pensam a longo prazo. A sociedade precisa da mineração. A mineração precisa ser feita com responsabilidade.
André Winter é consultor em sustentabilidade, com mestrado em BTH, Suécia. Já atuou em projetos de mineração estabelecendo indicadores de sustentabilidade e planos estratégicos além de atuar com relatórios GRI para o setor.
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