Garimpeiros urbanos procuram metais preciosos em celulares e outros componentes eletrônicos
A escassez de metais têm forçado, desde tempos imemoriais, a raça humana a buscá-los cada vez mais intensamente para suprir as necessidades tecnológicas. No rastro da máxima de Lavoisier – nada se cria, nada se perde, tudo se transforma – a busca pelos metais fundamentais para as novas tecnologias, criou um novo tipo de garimpo.
Com a disparada no preço dos metais, uma nova modalidade de garimpo ganha adeptos pelo mundo. Trata-se da procura por ouro, prata, cobre e diversos outros metais preciosos incorporados aos circuitos eletrônicos do celular. Metais recuperados são reutilizados em novos componentes eletrônicos; metais preciosos são derretidos e vendidos. O ouro e outros metais preciosos podem ser derretidos e vendidos como para joalheiros e investidores, ou de volta aos fabricantes.
“Os metais podem ser preciosos ou comuns, mas queremos reciclar todo o possível”, disse Tadahiko Sekigawa, presidente da Eco-System Recycling, subsidiária da Dowa Holdings.
Uma tonelada de minério extraída de uma mina de ouro produz em média apenas 5 gramas do metal, enquanto uma tonelada de celulares descartados pode render 150 gramas ou mais, de acordo com estudo da Yokohama Metal, outra empresa de reciclagem de metais.
O mesmo volume de celulares descartados contém também cerca de 100 quilos de cobre e três quilos de prata, entre outros metais. Reciclar eletrônicos tem grande apelo no Japão, onde há escassez de recursos naturais para alimentar a bilionária indústria de eletrônicos do país. Os consumidores jogam dezenas de milhões de celulares e outros bens de consumo eletrônicos obsoletos no lixo a cada ano.
Brasil perde 11 toneladas de ouro por ano
O Brasil desperdiça, nos lixões e aterros do país, cerca de 11 toneladas de ouro por ano. Além disso, são perdidos mais 17 tipos de metais preciosos. Entre eles, a prata, o cobre e o zinco. Toda essa riqueza jaz, escondida, nas 500 mil toneladas de celulares, computadores e demais produtos eletrônicos descartados pelos brasileiros anualmente. Com tamanha fortuna inutilizada, os garimpos dos tempos modernos têm trocado a perfuração da rocha pelas montanhas de sucatas. Algumas empresas estrangeiras estão usando o lixo verde amarelo para abarrotar os cofres de dinheiro. Em todo o mundo, essa conta do desperdício chega a 1,1 milhão de quilos do metal dourado.
Em terras brasileiras, a mineradora belga Umicore trabalha com a recuperação de eletrônicos. Todos os anos, ela recebe 250 mil toneladas de 200 matérias-primas diferentes contendo metais preciosos. Apenas em 2009, o faturamento mundial da empresa foi de 6,9 bilhões de euros, o equivalente a R$ 15,4 bilhões. Se esses garimpeiros modernos estão lucrando alto com a nova modalidade de exploração, quem guarda o material também ganha. Milhares de lojas de informática o vendem para os empresários a R$ 3 o quilo. O técnico Antônio Matos não sabia dessa possibilidade de renda até que um representante de uma multinacional o procurou.
"Antes, eu descartava tudo no lixo comum. Agora, guardo. A cada dois meses, eles passam recolhendo. Em um ano, consigo estocar duas toneladas de peças de computador", relata Matos. Com a comercialização do que anteriormente era descartado, o técnico em informática aumentou seu faturamento anual em R$ 6 mil. "Não deixo perder mais nenhuma peça. Uma vez, eu até tentei raspar as partes de ouro de algumas placas de computador, mas é muito fininho e não deu certo", lembra.
A quantidade de ouro nos equipamentos é pequena e exige tecnologia de ponta para separar os metais preciosos do plástico e das resinas que formam os componentes eletrônicos. Ainda assim, é um negócio vantajoso. Uma tonelada de sucata tem 22,24 gramas de ouro, segundo estudos da Universidade de Tecnologia de Berlim. Já a maior mina do metal precioso no Brasil, localizada em Paracatu (MG), tem o teor de apenas 7 grama por tonelada de minério. Nos aparelhos telefônicos, essa quantidade é muito superior à encontrada no município mineiro: são 150 gramas para cada mil quilos de celulares.
Japoneses
Os japoneses são os que mais fazem o reaproveitamento do material. Atualmente, cerca de 50% de todo o ouro do país oriental é reciclado. "É quase um garimpo. A questão é que, além do ouro, você tira cobre e plástico. Ainda tem a resina, que não serve para nada e pode se transformar em um passivo ambiental. Para realizar essa reciclagem, tem de ser uma empresa de grande porte.
Fonte: O Norte/ Blog do Mesquita
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