Um dos grandes nomes da paleontologia brasileira, Alexander Kellner, do Museu Nacional da UFRJ, foi preso na semana passada no aeroporto regional do Cariri, em Juazeiro do Norte (Ceará), sob suspeita de tráfico de fósseis. Com ele e colegas foram encontradas 236 amostras de fósseis da chapada do Araripe -complexo paleontológico com tradição de lavra não autorizada e contrabando.
Segundo a Polícia Federal e o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), órgão que autoriza essa atividade, a documentação do material estava irregular.
"A comunicação sobre a pesquisa que eles enviaram ao DNPM estava bastante incompleta. Não dizia com precisão nem quando e nem onde seriam as escavações", afirma Artur Andrade, chefe do escritório do DNPM na região do Cariri.
Além de Kellner, a polícia também deteve o geoquímico francês Romain Amiot, da Universidade Claude Bernard Lyon 1. Ele veio ao Brasil para uma pesquisa aprovada pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) mas, de acordo com a polícia, entrou no país como turista, o que seria inadequado.
A dupla foi liberada um dia após a prisão, na sexta-feira, depois do pagamento de fiança. A quantia de dez salários mínimos para cada um foi custeada por uma "vaquinha" entre cientistas.
O paleontólogo brasileiro Alexander Kellner, do Museu Nacional do UFRJ, a frente de painel com pterossauros
'NADA ERRADO'
O paleontólogo Alexander Kellner diz que está com a consciência tranquila a respeito do incidente. "O mais importante é que nada foi feito de errado", declarou.
"Tudo o que íamos fazer estava listadinho no projeto que o Álamo [Feitosa Saraiva, paleontólogo da Universidade Regional do Cariri e colega de Kellner] submeteu ao CNPq."
Kellner argumenta que, embora ele e seus colegas não tenham detalhado todos os locais de coleta no informe que mandaram ao DNPM, eles aparecem no projeto de pesquisa. Da mesma forma, defende-se ele, o colega francês também está no projeto.
"Além disso, todos esses fósseis iam ficar no Brasil. O Romain nem estuda fósseis, ele só analisa a química dos sedimentos", diz. "O DNPM tem de decidir se quer ser visto como um aliado da pesquisa ou como um entrave."
Para Álamo Saraiva, "faltou boa vontade" aos órgãos federais. "Partiram do princípio de que todo estrangeiro é traficante."
Andrade, do DNPM, diz que as críticas à atuação do órgão são infundadas. "Eles estão querendo encontrar um culpado, dizer que o problema é nosso."
De acordo com Glayston Araújo, delegado da Polícia Federal no Cariri, a informação de que os pesquisadores embarcariam para o Rio de Janeiro com material irregular partiu de uma denúncia.
Kellner e Amiot foram enquadrados na lei ambiental 9.605, que proíbe a extração de fósseis sem autorização, de acordo com a polícia. Ainda devem ocorrer novas investigações e uma perícia antes que se decida pela abertura de um processo contra os pesquisadores.
Fonte Ciência + Saúde
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