Vale destruirá milhares de cavernas na Amazônia
Registros históricos de 10 mil anos de ocupação humana na
Amazônia serão destruídos de forma indiscriminada. As cavernas serão
demolidas sem terem sequer sido pesquisadas. Arqueólogos contratados
pela própria Vale qualificaram as cavernas como de “relevância máxima” e
desautorizaram a entrada das escavadeiras.
Contrariando pareceres de arqueólogos, espeleólogos e do Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o governo
federal deu licença prévia para um investimento de 20 bilhões de dólares
em mineração de ferro, na vertente Sul da Serra de Carajás, no coração
da Amazônia.
Milhares de cavernas serão destruídas. Não há como preservá-las, pois
a extração do minério é feita a partir da demolição do terreno. Nada
ficará de pé, inclusive as cavernas, que guardam relíquias que datam de
10 mil anos atrás.
PODER DE CONVENCIMENTO
Pesquisas feitas nos últimos anos por espeleólogos e arqueólogos,
contratados pela própria Vale, recomendaram a preservação dos locais,
considerados por eles como de “relevância máxima”.
Parecer técnico do ICMBio, recomendando a preservação do local,
sequer foi considerado pelo governo federal, que deu a licença ambiental
prévia por intermédio do Ibama.
A negociação com o alto escalão do governo foi feita pelo próprio
presidente da Vale, Murilo Ferreira. Após a emissão da licença ambiental
prévia, Ferreira visitou a presidente Dilma Rousseff e fez uma
exposição sobre os planos da mineradora para a região. A reunião
aconteceu no Palácio do Planalto.
Registros históricos de 10 mil anos de ocupação humana na Amazônia serão destruídos de forma indiscriminada. Entre a preservação do patrimônio histórico e o aporte de 20 bilhões
de dólares para dobrar a produção na Serra dos Carajás, ficamos com a
segunda opção.
O governo sequer enviou uma expedição para tentar conhecer o tamanho do prejuízo que o país terá com a destruição das cavernas. Não pesquisou, não levou em conta o parecer do ICMBio, não deu
ouvidos aos arqueólogos e espeleólogos contratados pela própria
mineradora.
CADEIA PRODUTIVA
Em seus documentos oficiais que vieram a público, a Vale omitiu a
existência das cavernas. Informou apenas que os impactos ambientais
serão mínimos, pois o minério vai sair da região em esteiras com 30
quilômetros de comprimento, para áreas sem restrições ambientais.
A Vale tem sérios problemas na cadeia produtiva. O mais conhecido é o
de abastecer, com minério de ferro, siderúrgicas envolvidas com
devastação ambiental e trabalho escravo, conforme várias pesquisas
comprovaram, ao longo dos últimos anos.
Menos de 24 horas depois de informar que seu parecer era contrário a
licença ambiental prévia, o ICMBio voltou atrás. O
Ibama divulgou uma nota em que afirmava dispor de parecer favorável
emitido pelo ICMBio. Tudo ficou, dessa forma, resolvido.
A Vale agora trabalha para obter a licença ambiental definitiva e colocar a mina em operação, em 2016. É o maior projeto de mineração de ferro em andamento no mundo. Vai
aumentar em 82% a produção no chamado Sistema Norte, que passará das
atuais 109 para 200 milhões de toneladas anuais de minério de ferro.
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