Mineração: indústria da vez, mas com muitos desafios e obstáculos a enfrentar
Depois de muito se falar e discutir sobre o mercado de Petróleo e Gás no Brasil, o setor de mineração
está ganhando um lugar de destaque na economia brasileira. Este é o
segmento privado que mais se investe no Brasil de acordo com dados
divulgados pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Segundo
o orgão, a indústria será responsável, até 2015, pelo investimento
recorde no País de mais de U$$ 68 bilhões, Esse maior interesse por
projetos minerais tem como pano de fundo o cenário de demanda aquecida
que vem sendo puxada por alguns fatores: aumento da população mundial,
crescimento da economia dos países que fazem parte do bloco dos BRICS, a
demanda em alta por investimentos em infraestrutura e grandes projetos
ligados, principalmente, à realização no Brasil da Copa do Mundo de
Futebol e das Olimpíadas.
Nessa indústria, que está se fortalecendo cada vez mais, o
minério de ferro se apresenta como principal produto a receber os
investimentos previstos para mineração, em função principalmente do
apetite chinês que mesmo mostrando sinais de diminuição ainda é
responsável por grande parte das exportações brasileiras. O Ibram prevê
que serão aplicados neste segmento cerca de US$ 45 bilhões nos próximos
cinco anos, ou seja, mais de 60% do total de investimento previsto. Esse
investimento deve elevar em 112% a produção de minério de ferro de 2012
a 2015, chegando a 787 milhões de toneladas no período. Além da China,
também procuram por commodities minerais os países em desenvolvimento
como o Japão, que terá que aumentar a demanda de minério em função do
processo de reconstrução pelo qual passa o país, após os danos
provocados por terremoto seguido de tsunami em março de 2011. Já a
demanda doméstica também deve se manter aquecida nos próximos anos em
razão do desenvolvimento de programas de infraestrutura e da implantação
de grandes projetos ligados, principalmente, à realização no Brasil da
Copa do Mundo de Futebol e das Olimpíadas.
Este cenário de elevada demanda da indústria de mineração
contribui para que o setor continue apresentado não somente bons
resultados ao País, mas também uma longa lista de desafios e gargalos
pela frente que limitam ainda mais o crescimento da indústria. Entre
eles estão a dificuldade na obtenção de licenças ambientais, a demora na
entrega de equipamentos e a relação com a cadeia produtiva. Além disso,
as companhias que atuam no setor terão de demonstrar habilidade para
negociar com os clientes num cenário de volatilidade de preços gerada
pela crise financeira global e saber lidar com a competitividade por
preços menores do minério da China, um gigante asiático no setor. Vale a
pena citar também o gargalho que existe no Brasil em relação à
Logística. Esse ponto é um desafio para o País já que os custos
logísticos muitas vezes inviabilizam alguns projetos de mineração. A
realidade de hoje é que existe a necessidade de maior investimento em
infraestrutura logística brasileira (portos e ferrovias, entre outros),
além da questão da competitividade do preço do minério no mercado
asiático frente ao minério oriundo da Austrália, em função da
proximidade entre eles.
Em uma área que tem um déficit de centenas de engenheiros e de
técnicos, a falta de mão de obra e a limitada qualificação dos
profissionais para atuarem nessa atividade são outros obstáculos no
cotidiano das mineradoras, e estão entre as questões mais urgentes a
serem resolvidas pelas companhias. A escassez de trabalhadores e as
carências em baixa capacitação se tornaram uma dor de cabeça para a
indústria. Dados da Confederação Nacional da Indústria mostram que o
País forma hoje cerca de 30 mil engenheiros por ano, um número muito
inferior se compararmos à Rússia, que coloca no mercado 120 mil
profissionais dessa área, à Índia, que dispõe de 190 mil, e à China, que
tem diplomado cerca dez vezes mais engenheiros que o Brasil.
Outro fator, não menos importante que os anteriores, é o
investimento em pesquisa mineral no País, considerado por muitos
especialistas como escasso. A não realização da chamada pesquisa
geológica básica do solo brasileiro, que tem o potencial de indicar o
potencial de descoberta de minerais, pode reduzir e até afastar o
interesse de empresas estrangeiras em instalar e investir no País. Cerca
de 20% do território brasileiro tem cobertura numa escala que permite
identificar a presença de jazidas.
Não podemos esquecer que para superar estes e outros obstáculos
ainda há muito a ser discutido e implantado no setor, com a criação de
órgãos de regulamentação e de fiscalização, como o Conselho Nacional de
Política Mineral, a Agência Nacional de Mineração e o Marco Regulatório
da Mineração. A discussão passa ainda pela implantação e consolidação da
política para a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos
Minerais, chamada também de royalties da mineração. Todas essas ações
estão previstas no Plano Nacional de Mineração 2030, lançado pelo
Governo Federal, e que tem como objetivo garantir uma indústria forte e
competitiva e que norteará o setor mineral brasileiro nos próximos 20
anos.
De qualquer forma, apesar da aparente desaceleração do mercado
chinês e da crise européia o setor ainda se mostra aquecido. É a hora,
portanto, do fortalecimento da indústria no Brasil e consolidação da
atividade para garantir um lugar de destaque no cenário mundial. Por
isso, as mineradoras precisam estar preparadas para enfrentar esses e
outros desafios que ainda virão e ficar atentas para não perder os
benefícios que o desenvolvimento trará a rebote.
*Diretor de Desenvolvimento de Negócios para o setor de Mineração da KPMG no Brasil
Rio Vale Jornal
Fonte: Ibram
Fonte: Ibram
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