Reflexos da demanda internacional e políticas internas sobre o mercado de aço.
O ano de 2011 foi muito positivo para o setor de mineração, com um crescimento real no volume de exportação e aumento de dois dígitos em receitas, devido ao aumento do preço da commodity no mercado internacional. O setor é extremamente importante, pois representou nada menos do que 16.3% da pauta de exportação do Brasil.
O governo expôs uma perspectiva de crescimento do PIB brasileiro acima de 4%, o que parecia mais uma “esperança” do que uma real análise do cenário. A tentativa era de manter a confiança do mercado.
O ano de 2012 iniciou com forte redução de 20% nas exportações de minério, devido às chuvas em Minas Gerais no mês de Janeiro. As chuvas certamente influenciaram esses resultados, mas não foram uma variável independente para identificar o real motivo da queda das exportações, uma vez que os meses seguintes não apresentaram uma retomada da atividade e tiveram um resultado 16% menor que em 2011.
O mercado da commodity somente apresentou uma leve melhora em Maio, com aumento de 7% em relação a Abril, porém, o resultado ainda está distante do mesmo mês em 2011, devido à forte redução dos preços, como resultado da queda da demanda na Europa e, consequentemente, da China.
O real problema repousa na forte queda da demanda por aço nos mercados mais ricos e dinâmicos do mundo, como a Europa, América do Norte e na China.
Os investimentos em infraestrutura na China estão chegando ao limite, com milhares de imóveis vazios em cidades “fantasmas” criadas com recursos do enorme pacote de investimentos aprovado em 2008. Ainda assim, o governo chinês está convencido que para manter o crescimento econômico é necessário continuar investindo em infraestrutura, apesar do novo projeto impulsionar a inflação e afetar negativamente suas exportações do país.
Um eventual crescimento da demanda interna da China seria um fator positivo para as exportações brasileiras, não seria suficiente para suprir a diferença negativa gerada pela forte queda da demanda da Europa e Estados Unidos.
As medidas de austeridade econômica promovidas por países europeus para controlar seus gastos afetarão os investimentos governamentais e continuarão mantendo os gastos com infraestrutura em baixa.
Outro setor que apresentou queda nos principais mercados foi o automobilístico, que também influencia a demanda por aço.
Por isso, algumas medidas do governo brasileiro para incentivar a economia podem favorecer o setor de aço do país. Recentemente, o governo reduziu o IPI para incentivar o consumo de automóveis e aumentou o imposto para carros importados. Também foi feita uma redução nos juros para impedir um recuo maior da atividade econômica no setor de construção. Como reflexo dessas medidas heterodoxas, é possível prever uma melhoria de curto prazo na demanda por aço, mas um planejamento de longo prazo é essencial, uma vez que a economia européia não apresenta sinais de recuperação.
Um dos fatores que contribuem para a falta de competitividade dos produtos brasileiros é a incapacidade de investir em inovações, devido à alta carga tributária.
Alternativas de longo prazo poderiam ter como base a tão sonhada reforma tributária, que tornaria os produtos brasileiros, desde commodities aos produtos de alto valor agregado, mais competitivos e promoveria maior dinamismo no mercado interno brasileiro.
Os últimos anos de crise econômica internacional trouxeram grandes desafios aos setores mais dependentes de exportação na economia nacional, dentre eles as commodities e produtos de aço. A atuação do governo se faz essencial para manter o crescimento ou, ao menos, reduzir os impactos externos sobre esses segmentos. Por isso, o governo brasileiro tem intervido frequentemente com medidas paliativas, mas para que a economia possa ter um crescimento sustentado, medidas de longo prazo serão necessárias, incluindo políticas horizontais para diversificação da pauta de exportação, fortalecimento do mercado interno e aumento da competitividade dos produtos brasileiros.
Fonte: www.engenhariademinasnews.com
Rodrigo Leite é colunista e analista internacional
Nenhum comentário:
Postar um comentário