Por Marcelo Villela,
“Purificar o Subaé
Mandar os malditos embora
Dona d água quem é?”
Mandar os malditos embora
Dona d água quem é?”
Os versos de Caetano Veloso já denunciaram a degradação do rio Subaé na sua terra natal provocada a partir dos anos 60 do século passado pela Companhia Brasileira de Chumbo (COBRAC), no município de Santo Amaro da Purificação, na Bahia, considerada a cidade mais poluída por chumbo no mundo. O passivo ambiental é de pelos menos 500 toneladas de cádmio e 500 mil toneladas de escória de chumbo abandonadas na empresa e espalhadas pela cidade. A COBRAC foi vendida ao Grupo Trevo, em 1989. A usina foi fechada em 1993.
A complexidade dos danos ambientais na região será discutida durante o Seminário Santo Amaro que o Centro de Tecnologia Mineral (Cetem/MCTI) realizará nos dias 24 e 25 de outubro, no auditório do Centro, no Rio de Janeiro, com a participação de especialistas no tema. Na pauta, avaliação socioambiental do município e da contaminação por chumbo em Santo Amaro; a caracterização dos passivos ambientais da atividade metalúrgica de chumbo e a proposição de ações que visem cessar impactos socioambientais negativos locais.
Em função dos graves problemas ambientais no município baiano, o Cetem, com apoio da Secretaria de Coordenação das Unidades de Pesquisa (SCUP/MCTI), fez estudo completo de amostras de solos, resíduos de metalurgia e escórias, que serve como base para caracterização do problema. O Seminário fará uma reavaliação científica e tecnológica dos impactos ambientais, visando encaminhar ao governo federal uma proposta modelo para a realização de ações corretivas nas áreas atingidas por contaminações de metais pesados. Avaliação preliminar indica que são necessários R$ 300 milhões para ações de descontaminação da cidade, atendimento médico, indenizações e aposentadorias especiais.
O projeto Santo Amaro é coordenado pelos pesquisadores do Cetem, Francisco Fernandes e Luiz Carlos Bertolino, em parceria com o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), no desenvolvimento de modelagens matemáticas, com a CPRM, para realizar investigações na linha de pesquisa da Geologia Médica, e com a Universidade Federal da Bahia (UFBA).
“Os riscos que corre essa gente morena
O horror do progresso vazio
Matando os mariscos e os peixes do rio”
A canção de Caetano retrata bem a poluição dos recursos hídricos da região que recebiam resíduos industriais lançados sem tratamento, contaminando moluscos, sedimentos e mariscos. A chaminé sem filtro jogou na atmosfera toneladas de material particulado, enquanto a escória era inadequadamente disposta em aterros e utilizada na pavimentação de ruas e construção de prédios públicos.
Passados 50 anos, apesar de estudos e projetos, a situação não foi enfrentada. A última proposta de ação foi da presidente Dilma, em 2011, que determinou que o problema fosse resolvido, após receber dossiê da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado.
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